sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Auto-cataclismo Posted by Hello


Contornei a esquina, ouvia a massa liquida de aspecto viscoso e negro, podia sentir que engolia o mundo, sentia a lava da apatia a coagular nos teus pulmões sanguíneos. Olhava para trás, fui correndo, na esperança de que nada me tocasse, percorria as ruas numa ansiedade que arreganhava a pele, sentia as carapaças estaladiças a sucumbir sobre os pés descalçados. Usava a fisiognomonia para esconder o medo, ajoelhava a cada meia légua, aterrava os joelhos em calçadas de carvão, tudo era fogo, tudo já se tinha extinguido, eu, as baratas e os escaravelhos. Sobravam alguns cascalhos guardando maxilares carunchentos e crânios heteromórficos, era chocante o cheiro a sangue fervido que inalava. As moscas provaram as vísceras humanas e esfomeadas, por tripas morreram na cicuta da ansiedade. As baratas degradavam a pele e a carne, os escaravelhos interpretavam o corpo como esterco abundante, rodeados de um festim de mortandade imenso, ascendiam.
A sul brilhava o sol ceifado para a morte, num rodopio gigantesco era engolido com as réstias pétreas de um Universo empurrado para a gorjeta. O meu mundo era esgoto, uma assimilação de destruição, um vómito embrulhado pelo sol, regurgitando o registo de qualquer vida presente em mim. Em tons de clarão, carvão e conformação assistia da minha poltrona à minha fuga convulsante.
Perante um convite para a morte, tendo como realidade um mundo em cataclismo, espero o ligar da televisão que me lança na cognição. .