terça-feira, junho 21, 2005

Anemia

Posted by Hello

Sinto-me como coágulo, congelei por qualquer estado de espirito anímico, reduzo a minha vontade ao arranhar e esticar da pele, apetece-me qualquer outro sentimento que não seja este, o vazio perplexo e completo. Quero a dor física para me tornar imune à anemia cerebral. Ou então sexo, para que a dor não seja egoísta e se torne prazerosa em nós.
O abismo abre-se e torno-me gás...infiltrado entre pedregulhos pardacentos, tenho a sensação de me suster a meia altura, nem perto do chão, nem perto do céu. Estou por ali, a deambular, ao sabor da tempestade que me empurra.
Torno subnutrição cerebral em puro desespero e ânsia de cravar a minha saída pelo lado do sangue oposto ao que está em mim, ou seja, ao de outro. Lentamente, vou escoando para a raiva e para o ódio. Sinto a pele a arder, pelos puxões sucessivos a que me sujeito, quero o sabor a sangue quando te morder.
Por fora, a cidade encontra-se peganhenta, cheia de perfeccionismo agradados em crânios esmagados. Encontro um trilho por onde erguer a minha pessoa. Por hoje sei que ainda não parei. Talvez que a almofada me acalme. Que o sono volte a mim, e me arranque este estado de rara sensatez e de extinta compreensão. Espezinhar. Pular. Saltar. Correr. Ofegar, ofegante. Sentar. Voltar a esperar...a ansiedade da fuga à anemia. Já se ouvem de novo, os pré-avisos de uma sinistralidade precavida de morte.

quinta-feira, junho 16, 2005

Vultos.

Resvalo do sonho para a concretização da escrita. Ainda...há procura de um método, ou talvez e apenas de uma lógica eficaz que faça brotar histórias de divãs fatigados e televisores oleosos , reconheço todo o peso que na hora a tal busca tem.
Procuro personagens perceptivelmente humanas, capazes do sencionalismo, do erotismo, da escravidão metabolizável à coerência da atitude. A letra e a frase são passos preciosos sobre o gatilho. O olhar depreciativo, a leveza do corpo. Os dedos retidos na chave que destranca o sossego, a intensidade da mão que pousa o copo, a tristeza da íris que capta a brisa, o peso do crânio sobre o leito dos amantes.
São vultos e frutos da solidão perturbada pelo que vem ao real. São contos retidos na dolorosa e lenta extracção da essência da minha e sua humanidade. Construções meticulosas, cautelosamente reduzidas a alimento, para lhe provar a pele. Sei-lhes o lar, os hábitos, conheço-lhe o ferro que lhes corre no corpo. Inalam-me o tempo, volatilizam a memória. Reduzem as migalhas da minha dualidade habitacional...